Economistas avaliam que um dos principais motivos para Selic continuar no maior patamar em 20 anos é o desequilíbrio das contas públicas
13/12/2025
(Foto: Reprodução) Economistas avaliam que desequilíbrio nas contas públicas pressionam selic
Esta semana, o Banco Central manteve, pela quarta vez seguida, a taxa básica de juros em 15% ao ano. Economistas avaliam que um dos principais motivos para Selic continuar no maior patamar em 20 anos é o desequilíbrio das contas públicas.
Existe uma correlação entre o trabalho dos diretores do Banco Central e o do barbeiro. Não tem corte da taxa básica de juros se o preço dos serviços sobe. Só que, em cenário de pleno emprego, é preciso disputar mão de obra qualificada.
“Se o profissional não estiver locado em um local que ofereça uma estrutura boa, um bom rendimento, o mercado está cheio de opções”, diz o dono de barbearia Nilson Ribeiro.
Enquanto a inflação de serviços gira em torno de 6%, a taxa de juros fica no maior nível em quase duas décadas. Era 10,5% em setembro de 2024 e subiu até estacionar em 15% em junho de 2025. Em setembro de 2024, o índice oficial de inflação estava abaixo do teto da meta: 4,5%. O que voltou a acontecer só agora em novembro. Ainda distante do centro do alvo do Banco Central, de 3%.
“Essa política monetária contracionista agora está mostrando os sinais de que está funcionando. Eu preciso tirar a água da festa, o chope da festa, porque eu preciso diminuir a demanda. O PIB no terceiro trimestre cresceu 0,1%. Ora, isso foi uma demanda do Banco Central: eu preciso esfriar a economia”, diz Roberto Dumas, professor de economia da FIA Business School.
Economistas avaliam que um dos principais motivos para Selic continuar no maior patamar em 20 anos é o desequilíbrio das contas públicas
Jornal Nacional/ Reprodução
Ao explicar a decisão de manter os juros, o Banco Central evitou dar sinais dos próximos passos. Disse só que o cenário é de “elevada incerteza”, o que exige “cautela na condução da política monetária”. Na avaliação dos diretores do Comitê de Política Monetária, ainda não é hora do corte de juros. Os economistas leram nas entrelinhas do comunicado que a autoridade monetária entende que os preços estão cedendo, a atividade econômica e o mercado de trabalho esfriando, mas ainda não o bastante. E dizem que seria mais rápido e barato se o Banco Central não fizesse sozinho o trabalho de controle da inflação.
“Qual seria a melhor forma? Ter juros baixos e o governo controlando suas despesas. Não foi isso que aconteceu. Se o Brasil quer ter juros baixos e um crescimento mais consistente, nós precisaremos controlar o crescimento da despesa pública. Em especial, o que se chama despesa obrigatória, aqueles gastos do governo que ele tem que gastar independentemente do que aconteça na economia. O crescimento das despesas obrigatórias precisa ser controlado”, afirma Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual.
No Banco Central e na barbearia, corte é questão de confiança.
“Um dia, eu vi uma história de que o rei, as duas pessoas de maior confiança era o cozinheiro e o barbeiro, por motivos óbvios”, diz o professor André Mafra.
“Para a gente ter confiança, por exemplo, de que a inflação no Brasil lá na frente vai ficar em 3% sem precisar de um juro tão alto, é necessário que fique mais claro de que forma o governo, qualquer que seja o governo daqui para frente, conseguirá controlar o crescimento da despesa pública”, diz Mansueto Almeida.
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